Servindo os ideais do Movimento Rosa-Cruz

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A Missão da Confraternidade da Rosa+Cruz

(Também publicado no livro “Atitude Desperta”, uma coleção de ensaios escritos por Gary L. Stewart, anterior Imperator da CR+C.)

 

Como membros da Confraternidade da Rosa+Cruz (CR+C), sabemos que nossa organização tem mais de três mil anos de idade. Mas o que isso significa?

Como Rosa-Cruzes, temos uma perspectiva e também uma compreensão diferente, que somente aqueles com uma mente tradicional podem apreciar totalmente. O número de anos de nossa existência não é o que é importante. É o fato de que somos que nos confere valor. Em uma sequência linear de acontecimentos, não faz nenhuma diferença se existimos há 50.000 anos ou há 10 anos. É o que somos que nos torna importantes e, como o ano que celebramos, o que somos é também algo único.

À medida que estudamos os ensinamentos Rosa-Cruzes, lentamente começamos a despertar para os valores ensinados pela Ordem. Lentamente começamos a desemaranhar os mistérios que envolvem tais tópicos como ciclos e tradição. Através de tais ensinamentos, algo quase mágico começa a acontecer. Dentro de nosso coração, um despertamento de algo que é intangível — que não pode ser expresso em palavras ou pelo intelecto — começa e, no entanto, quase paradoxalmente, é expresso através de um saber que transcende todo conhecimento. Esse saber é o primeiro sinal de uma abertura para a vastidão do misticismo. Acho que se aproveitarmos para meditar sobre o que lemos e aprendemos nas monografias, constataremos que nosso conhecimento é muito mais vasto do que as palavras estudadas. Avaliemos isso, porque frequentemente não reconhecido pelo estudante, está o fato de que algo notável em nossas realizações individuais tem se manifestado — algo novo e, no entanto, antigo além da medida. Qual é a natureza dessa “antiga novidade”? Encontraremos essa resposta em nossa tradição.

Entre os membros da CR+C, há um tremendo interesse em nossa história. A ideia de que Sir Francis Bacon foi um Imperator, ou o conceito de que o Rosacrucianismo do século XVII exerceu um profundo impacto na sociedade europeia e desencadeou uma evolução do pensamento e dos costumes humanos, excita a imaginação e o interesse. Mas de qual outro valor é esse conhecimento? É ele verdadeiramente importante? A resposta é tanto sim quanto não. Não, não é importante se permitirmos que o interesse apenas excite interminavelmente a imaginação e o debate sobre o que realmente ocorreu em Paris em 1622, ou quem realmente escreveu os manifestos Rosa-Cruzes. A resposta é sim, se compreendemos e participamos do movimento. Aqui repousa o “segredo” para compreender a importância de nossa história e tradição: “Participar de um movimento”.

Por que é importante preservar e perpetuar nossa tradição?

Porque nossa missão ainda não está completa. Quantos de vocês pensaram no Rosacrucianismo como um movimento iniciado para completar uma missão, ou olharam para nossa história e viram essa mensagem tão ostensivamente escrita? Quantos de vocês associaram os ensinamentos privados que estudamos tão diligentemente — e que exercem um impacto profundamente benéfico em nossas vidas — com as iniciações de Templo e com os rituais, e os ligaram aos valores Rosa-Cruzes tradicionais? Esses três pontos, a Lei do Triângulo, produzem o quarto — o quadrado, ou a fundação, que nos revela nossa missão.

Da mesma forma que o antigo argumento de que o propósito da vida não pode ser definido, essa missão não pode ser expressa. Colocado de forma simples, não há palavras. Há apenas um saber. Conforme mencionado anteriormente, esse saber é a vastidão do misticismo.

Para os místicos Rosa-Cruzes, é um truísmo que para a verdade ser conhecida, um despertamento deve se manifestar. Esse despertamento é uma transição a partir do intelecto para a consciência mística e sua aplicação. Naturalmente, isso é autoevidente para os Rosa-Cruzes. Sem tal transição, a verdade permanece evasiva. Isso também é autoevidente. Antes que aqueles que sabem e estão investidos da verdade possam expressá-la, deve haver uma audiência para recebê-la e, mais importante, para conhecê-la. Uma vez que conheçamos a verdade, nós nos tornamos a verdade, nós a vivemos, nós somos a verdade.

Como exemplo, fiz anteriormente referência ao argumento com relação a quem escreveu os Manifestos Rosa-Cruzes do século XVII, um argumento não diferente daquele com relação à autoria das peças Shakespearianas. Alguns eruditos dizem que os Manifestos Rosa-Cruzes foram escritos por um indivíduo chamado Andrea, enquanto outros apontam Sir Francis Bacon como o autor, e alguns citam mesmo o Dr. John Dee. Identificar qualquer indivíduo como autor, e provar isso de forma inquestionável seria identificar o trabalho como o produto de um indivíduo. Se isso foi planejado dessa forma ou não, tal marca de distinção limitaria o efeito do trabalho como o produto da mente de um indivíduo para a realização de um propósito específico.

Mas por que, em áreas do Rosacrucianismo, há tanta controvérsia em questões desse tipo? Talvez para que não se estabeleçam limitações. E por que não estabelecer limitações se não for para preservar e assegurar o sucesso de uma missão? Se for para a verdade ser conhecida, não foi uma única pessoa que escreveu os Manifestos. Eles foram colocados em palavras por uma pessoa e tornados públicos por um grupo. Os Manifestos não são o produto de um indivíduo, mas sim o produto de um movimento para levar a cabo uma missão provinda do coração daqueles que atingiram uma consciência mística, e que necessariamente reconheceram e assumiram a responsabilidade de perpetuar o Trabalho. Quando nos removemos das limitações da personalidade individual em assuntos relativos à Luz, e nos identificamos com um movimento de natureza onipotente, nossa missão torna-se óbvia. Nós simplesmente sabemos.

O misticismo é uma essência. O Rosacrucianismo é nosso caminho, ou técnica. Nossa tradição é nosso veículo, consistindo de tudo que o somos e que nos tornaremos. Em adição à nossa doutrina e ritual, a CR+C é também uma organização cultural e educacional. Não vamos pensar sobre os dois últimos aspectos como funções separadas ou extensões da CR+C, porque eles não o são. Não somos meramente uma organização que perpetua a cultura e a educação. Nós somos uma cultura tradicional vivendo em uma sociedade contemporânea. Somos uma sociedade mundial que não conhece fronteiras nacionais e trabalha em paz e em harmonia com toda a humanidade.

Essa situação é historicamente única e, de certa forma, identifica nossa missão, além de explicar muitas de nossas ações. Quando o anterior Imperator Ralph Lewis disse que os estudos Rosa-Cruzes auxiliam o estudante a desenvolver uma filosofia de vida, ele não estava apenas falando dos benefícios pessoais para estudantes individuais, mas também assegurando que os elementos da missão estejam enraizados dentro de cada estudante.

Somos uma sociedade, somos uma cultura regulada por nossas leis tradicionais para assegurar que respeitemos, ajudemos e sirvamos à humanidade, e não caiamos vítimas das limitações do poder, do controle e dos problemas bélicos que assediam as culturas e as sociedades não místicas.

Há mais de três mil anos, as engrenagens foram colocadas em movimento e um plano foi instituído. Nossas tradições e nossas atividades não estiveram sempre limitadas às realidades físicas objetivas e não poderiam sempre ser medidas através de documentação histórica, nem a medição é, mesmo remotamente, necessária. O reino místico, o reino Rosa-Cruz, não pode ter tais limitações. O importante é que a tradição permaneceu viva no coração de muitas e, no entanto, poucas pessoas por um tempo bastante longo. A intemporalidade de nossa tradição e a ilimitabilidade de nosso conhecimento trabalharam para um propósito dirigido que, sinto, veremos cumprido durante a maior parte de nossa vida.

Contudo, o cumprimento é apenas um começo, pois quando uma criação está completa, uma direção deve ser intensificada. Nosso começo é manifestar essa direção. É agora, mais do que em qualquer época anterior, que nosso Trabalho será o mais difícil, e nossa necessidade é você. Nossa Ordem, nossa missão, exige que todos nós nos esforcemos incessantemente e incansavelmente.

Sir Francis Bacon escreveu sobre a “Nova Atlântida” e muitos pensaram que ele se referia à América. Mas, a partir de nossa perspectiva, já é tempo de perceber que ele não considerou um lugar em particular, mas sim uma condição de natureza universal para ser a “Nova Atlântida”. Platão em Timaeus, Critias, e em A República, escreveu sobre a “velha” Atlântida. Em um sentido tradicional, a “Velha Atlântida” falhou — ou não? A “Nova Atlântida” é uma decisão nossa a ser tomada.

Esta é de fato uma época crucial. Somos assediados pela ignorância e também pela ambição e pelo poder. Mesmo nossa Ordem sentiu os efeitos de indivíduos e de grupos oportunistas que não querem, ou não podem, reconhecer a missão. Mas isso simplesmente pode ser esperado. Essa é a condição do mundo. O que isso se tornará? De fato, nosso trabalho agora é o mais difícil e nem tudo está claro para todos. Cada um de nós precisa reconhecer esta situação de forma que possamos saber o que fazer.

Não seja induzido ao erro de pensar que há uma batalha entre a Luz e as Trevas. Há somente Luz. Nós servimos à Luz. As Trevas são uma ilusão. Embora seja verdade que as Trevas tenham sido criadas em existência, elas são, não obstante, uma ilusão.

Nós não lutamos contra ilusões; nós as transcendemos. Mas tudo isso está bem expressado em nossos ensinamentos, rituais e tradições e, conforme a missão decretou há mais de 3000 anos, em nossos corações. Nós nos defrontamos com uma tarefa difícil, mas fomos bem ensinados.

De fato, eis porque tradicionalmente celebramos cada novo ano na data do Equinócio da Primavera — para agradecer e reverenciar nosso propósito. Este ano, eu gostaria de expandir essa tradição por um período de cinquenta e dois dias, dedicando-nos novamente, dia a dia, ao Rosacrucianismo e à sua missão, além de conduzir o trabalho esotérico em nosso Serviço à Luz e ao cumprimento de um plano. Sei que todos vocês continuarão a trabalhar de sua própria maneira por toda sua vida.

De fato, temos algo a comemorar!

 

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