Servindo os ideais do Movimento Rosa-Cruz

Adendo ao Credo

  1. ἀγένητο (agenetos): não criado, não originado. A raiz da palavra vem de ‘começando a ser’.
    ver Pl. Phdr. (Platão, Phædrus) 245 c-e: “… Então somente aquilo que move a si mesmo é que nunca desiste do movimento … de fato, isso que move a si mesmo é também a fonte e a mola do movimento em tudo o mais que se move; e uma fonte não tem começo… não há nenhuma fonte para isso, uma vez que uma fonte que obteve seu início a partir de outra coisa não seria mais a fonte. E uma vez que não pode ter um começo, então necessariamente não pode ser destruída… ao passo que um corpo cujo movimento vem de dentro, de si mesmo, tem de fato uma alma, sendo essa a natureza de uma alma… então, necessariamente segue que a alma não devia ter nem nascimento nem morte.”
  2. ἀγέννητος (agennetos): sem causa, não gerado, não nascido. A raiz da palavra vem de ‘gerar ou produzir’, i.e., sem causa. ver Pl. Ti. (Timæus) 52 a-b: “… mantém sua própria forma imutavelmente, que não foi trazida a ser e que não é destruída, que nem recebe em si mesma qualquer outra coisa de qualquer outro lugar, nem entra em qualquer outra coisa em qualquer outro lugar, é uma coisa. É invisível – não pode de nenhuma forma ser percebida pelos sentidos – e é papel do discernimento estudá-la. A segunda coisa é aquela que compartilha o nome da outra e se assemelha a ela. Essa
    coisa pode ser percebida pelos sentidos e foi gerada (γεννητός). Nasce constantemente sozinha, chegando então a existir em determinado local e depois perecendo a partir dele. É apreendida pela opinião, que envolve percepção sensorial. E o terceiro tipo é o espaço, que sempre existe e não pode ser destruído. Ele fornece um estado fixo para todas as coisas que venham a ser. É, ele mesmo, apreendido por uma espécie de raciocínio bastardo que não envolve percepção sensorial, e dificilmente é até mesmo objeto de convicção. Nós olhamos para ele como em um sonho quando dizemos que tudo o que existe deve necessariamente estar em algum lugar, em algum local e ocupando algum espaço, e aquilo que não existe em algum lugar, seja da terra ou no céu, não existe de forma nenhuma.”

 

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Agennetos vs. Agenetos e por que o Credo utiliza agennetos para referenciar Deus em contradistinção ao Cristianismo e às sociedades místicas e ordiais que utilizam agenetos:Essas palavras vêm de raízes diferentes e, em princípio, significam coisas diferentes. Certamente, Athanasius e aqueles da Igreja Nicena argumentavam dessa forma e adotaram essa distinção ao desenvolver o dogma da Igreja, existente hoje exatamente como era no século IV. ‘Agennetos’ (ἀγέννητος) vem de γεννἀω, produzir ou gerar (i.e., sem causa), enquanto ‘agenetos’ (ἀγένητος) se origina de γίγνομαι, fazer com que exista ou que se torne (i.e., causado). Portanto, aplicando isto a um exemplo utilizando contexto bíblico, Adão poderia ser descrito como agennetos porque não tinha pai, mas não como agenetos porque começou a existir (i.e., ele seria necessariamente descrito como genetos e não como agenetos). Enquanto Athanasius e os Nicenos estabeleciam uma distinção entre as duas palavras, pois a referida distinção permitia uma aparência de validade lógica para a mente racional, Eunomius e os não Nicenos consideravam as palavras equivalentes no contexto com o Divino. O raciocínio por detrás dos pensamentos de Eunomius sobre esta questão é em função de que em muito do pensamento grego o universo é considerado estar dividido em coisas que são causadas e não têm nenhum começo (genetoi), e outras coisas que são não causadas e não têm um começo, coisas que nunca vieram à existência de maneira nenhuma (agenetoi). Autores pagãos podiam incluir entre as últimas não somente as almas como entidades automoventes, mas até mesmo o próprio universo. Enquanto cristãos e judeus restringiriam a utilização desta palavra a Deus, o Criador não gerado de todas as coisas, os Nicenos, que diziam que o Filho e o Espírito eram agenetos, estavam dizendo que essas entidades eram de alguma forma conectadas ontologicamente com a origem da realidade agenetos (e agennetos). Para Eunomius e os não Nicenos, isso era tão blasfemo quanto ilógico porque apenas um Deus que fosse ontologicamente simples e totalmente único poderia possivelmente ser agennetos.
Portanto, a questão entre Nicenos e não Nicenos era que os Nicenos precisavam distinguir entre a geral falta de fonte das pessoas na Trindade e a qualidade de não ser gerado que é aplicável ao Pai. Por outro lado, os não Nicenos tinham de garantir a falta de causa sem paralelos de uma fonte Divina única; e distinguir entre uma geral e uma específica falta de causa, como os Nicenos faziam, tornaria isso impossível. Portanto, para Eunomius, ‘agennetos’ e ‘agenetos’ necessariamente tinham de ser idênticos.

 

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