Servindo os ideais do Movimento Rosa-Cruz

Nuptiae Chymicae

As Nuptiae Chymicae foram publicadas pela primeira vez em alemão no ano de 1616 em Estrasburgo, entretanto, supõe-se que tenham existido em forma de manuscrito já em 1601-2. Esta obra foi traduzida para o inglês pela primeira vez em 1690 por E. Foxcroft, Ex-Membro do King’s College em Cambridge, tendo essa tradução se tornado a fonte para muitas das modernas tentativas de melhorar o original. A tradução aqui apresentada foi efetuada a partir da versão em inglês de E. Foxcroft. As notas de rodapé foram escritas por Andre Rotkiewicz, as traduções do latim foram efetuadas por Carl Williams e a tradução para o português foi executada por Arnaldo T. Santos (Todos os Direitos Reservados).


Nota do Tradutor:

Com o propósito de manter o texto em português o mais fiel possível ao original em inglês, esforçamo-nos por manter todos os itálicos existentes, bem como letras maiúsculas em palavras em locais onde normalmente não seriam maiúsculas. De forma análoga, todas as frases escritas de forma indireta, ou entrecortadas por outras informações, foram também mantidas dessa maneira, o que muitas vezes dificulta a leitura, mas preserva a estrutura original do texto. Diversas palavras poderiam também ter sido substituídas por outras de uso mais corrente em português, mas novamente nossa escolha baseou-se na intenção de manter o ‘sabor’ do texto escrito no século XVII. Observe-se ainda que na tradução de todas as linhas em forma de verso, optamos por manter o sentido mais próximo possível ao original, conforme o entendemos, em detrimento das rimas existentes na versão em inglês. Por fim, externamos nossos agradecimentos ao Imperator Gary L. Stewart pelos inestimáveis esclarecimentos oferecidos durante a preparação desta tradução.


O
ROMANCE
HERMÉTICO:
OU AS
NUPTIAE
CHYMICAE

Escrito em Alto-Alemão Por
Christian Rosencreutz.

* * *

O Primeiro Dia [pdf]

Em uma Noite antes do Dia de Páscoa, sentei-me à Mesa, e tendo (conforme era meu Costume) em minha humilde Prece conversado suficientemente com meu Criador, e considerado muitos grandes Mistérios (a respeito dos quais sua Majestade o Pai das Luzes havia me mostrado não poucos), e estando agora pronto para preparar em meu Coração, juntamente com meu querido Cordeiro Pascal, um pequeno e imaculado Bolo ázimo; subitamente surgiu uma tão horrível Tempestade, que nenhuma outra coisa imaginei a não ser que em função de sua poderosa força, a Colina, sobre a qual minha pequena Casa estava assentada, voaria em pedaços. Mas visto que isto, e coisas parecidas vindas do Demônio (que havia me causado muitos aborrecimentos) não era novidade para mim, tomei coragem e persisti em minha Meditação, até que alguém, de uma maneira incomum, me tocou nas Costas, em conseqüência do que fiquei tão imensamente aterrorizado que mal ousei olhar à minha volta e contudo, mostrei-me tão bem-disposto quanto (em Ocorrências parecidas) a fragilidade humana permitia.Agora, a mesma coisa ainda estava me puxando várias vezes pelo Casaco e olhei para trás, e observei que era uma encantadora e gloriosa Senhora, cujas Roupas eram todas da cor do Céu, e curiosamente (como o Céu) salpicadas de Estrelas douradas. Em sua Mão direita ela portava uma Trombeta de ouro batido, sobre a qual estava gravado um Nome (que eu podia bem ler), mas estou até agora proibido de revelá-lo. Em sua Mão esquerda ela segurava um grande maço de Cartas em todas as Línguas, que (conforme mais tarde compreendi) ela deveria levar para todos os Países. Também possuía grandes e belas Asas, cheias de Olhos em toda sua extensão, por meio das quais poderia elevar-se nas alturas e voar mais velozmente do que qualquer Águia. Eu poderia talvez ter sido capaz de observá-la melhor, mas pelo fato de ela ter ficado tão pouco tempo comigo, e como o terror e a estupefação ainda me possuíam, não tive outra alternativa senão estar satisfeito. Pois tão logo me virei, ela revolveu suas Cartas repetidas vezes e finalmente tirou uma pequena carta que com grande Reverência colocou sobre a Mesa, e partiu sem me dizer uma palavra. Mas ao se elevar, deu um sopro tão poderoso em sua imponente Trombeta que toda a Colina ecoou a partir dali, e durante um quarto de hora inteiro depois disso eu mal conseguia escutar minhas próprias palavras.

Em função de tão inesperada aventura, eu estava perdido em como aconselhar ou auxiliar meu pobre eu, e assim, caí de Joelhos e supliquei ao meu Criador para nada permitir que me ocorresse que fosse contrário à minha Eterna Felicidade; após o que, com medo e tremendo, avancei até a Carta, que estava agora tão pesada que, se fosse de Ouro maciço, dificilmente teria tão grande peso. Agora, enquanto a estava olhando diligentemente, descobri um pequeno Selo, sobre o qual uma curiosa Cruz com esta Inscrição, In

Hoc Signo day 1 Vinces, 1 estava gravada.

Tão logo observei esse sinal, fiquei mais confortado, pois não desconhecia que tal selo era pouco aceitável e muito menos útil ao Demônio. Depois disso, delicadamente abri a Carta e dentro dela em um Campo Azul-Celeste, em Letras Douradas, encontrei escritos os seguintes Versos:

Monas
“Neste dia, neste dia, neste, neste
São as Núpcias Reais.
Estás para isso por nascimento inclinado,
E para alegria de Deus designado?
Então podes para a montanha te dirigir,
Sobre a qual três majestosos Templos se encontram,
E lá, tudo ver dum extremo ao outro.
Mantém guarda e vigia,
Observa-te;
A menos que com diligência te purifiques,
As Núpcias não poderão abrigar-te sem dano;
Elas causarão dano àquele que aqui se demora;
Que se acautele aquele cujo peso é demasiado leve.”

 

Abaixo, estava escrito Sponsus e Sponsa. 2

Tão logo li essa Carta, imediatamente fiquei como se tivesse desmaiado, meus Cabelos ficaram em pé e um Suor frio escorreu por todo meu corpo. Pois embora bem percebesse que estas eram as Núpcias designadas, a respeito das quais sete Anos antes eu me inteirara em uma Visão corpórea, e que agora por tanto tempo com grande dedicação eu considerava, e que mais recentemente, pelo cômputo e cálculos dos Planetas, os quais eu havia muitíssimo diligentemente observado, constatei ser assim, eu, no entanto, nunca poderia prever que devesse acontecer sob tão penosas e perigosas condições. Pois enquanto eu antes imaginara que para ser um Convidado bem-vindo e aceitável precisaria apenas estar pronto para aparecer nas Núpcias, eu era agora dirigido à Providência Divina, da qual até este momento nunca estivera certo. Também descobri por mim mesmo, quanto mais examinava a mim mesmo, que em minha Cabeça nada havia a não ser uma grosseira má compreensão e cegueira acerca das coisas misteriosas, de forma que eu não era capaz de compreender nem mesmo aquelas coisas que estavam sob meus Pés, e com as quais interagia diariamente, muito menos seria capaz de compreender que tivesse nascido para investigar e compreender os Segredos da Natureza; uma vez que em minha opinião a Natureza poderia em todos os lugares encontrar um Discípulo mais virtuoso, a quem confiar seus preciosos, embora temporários, Tesouros. Também constatei que meu comportamento físico e boa Interação externa, e Amor Fraterno em direção ao meu Vizinho, não estavam devidamente purgados e purificados; além disso, a comichão da Carne manifestava-se, cuja afeição voltava-se somente para a Pompa e a Valentia e o Orgulho Mundano, e não para o bem da humanidade: E eu estava sempre me empenhando em como através desta arte poderia em um curto período de tempo aumentar abundantemente meu lucro e vantagens, erigir Palácios majestosos, fazer de mim mesmo um Nome eterno no Mundo, e outros planos Carnais semelhantes. Mas as palavras obscuras relativas aos Três Templos de fato me afligiram particularmente, as quais eu não era capaz de decifrar através de qualquer pós-Especulação, e talvez ainda não pudesse, caso elas não tivessem sido maravilhosamente reveladas para mim. Desta forma, paralisado entre Esperança e Medo, examinando-me repetidas vezes e constatando apenas minha própria Fraqueza e Impotência, não sendo de nenhuma maneira capaz de socorrer a mim mesmo, e extraordinariamente pasmo com a acima mencionada ameaça, finalmente dediquei-me à minha conduta mais usual e mais segura. Depois que terminei minha mais sincera e fervorosa Prece, deite-me em minha Cama, de forma que se por acaso meu Anjo bom pudesse, através da permissão Divina, aparecer, e (conforme havia acontecido anteriormente algumas vezes) instruir-me nesta questão duvidosa, o que, para a glória de Deus, para meu próprio Bem e de meus Vizinhos, um fiel e leal aviso e clarificação de fato agora ocorreu. Pois mal havia adormecido, quando me pareceu que eu juntamente com uma incontável multidão de homens estávamos agrilhoados com grandes Correntes em um Calabouço escuro, no qual sem o menor brilho de Luz nos aglomerávamos como Abelhas uns sobre os outros, e desta forma causávamos aflição mais dolorosa uns aos outros. Mas embora nem eu, nem nenhum dos outros pudéssemos ver nada, eu continuamente ouvia um se erguendo sobre o outro, quando suas Correntes ou Grilhões se tornavam mesmo um pouco mais leves, embora nenhum de nós tivesse muita razão para empurrar o outro, uma vez que éramos todos Prisioneiros Desventurados. Agora, à medida que eu com os demais havíamos continuado um bom tempo nessa aflição, e cada um estava ainda reprovando o outro com sua cegueira e cativeiro, finalmente ouvimos muitas Trombetas soando juntas, e Timbales batendo ali tão artificialmente que isso até mesmo nos reviveu e nos alegrou em nossa Calamidade. Durante essa Balbúrdia, a
cobertura do Calabouço foi, a partir de cima, levantada, e uma pequena luz baixou sobre nós. Então primeiramente podia-se verdadeiramente discernir o alvoroço em que nos mantínhamos, pois tudo era tão caótico, e aquele que por acaso tivesse se erguido demasiadamente, era forçado novamente para baixo sob os Pés dos outros. Em resumo, cada um se esforçava para estar no lugar mais alto, nem eu mesmo hesitei, mas com meus pesados Grilhões deslizei de meu lugar debaixo dos outros e então me ergui por sobre uma Pedra, na qual me agarrei. Não obstante, fui diversas vezes agarrado pelos outros, dos quais, contudo, tão bem quanto podia, com Mãos e Pés eu ainda me protegia. Pois nada imaginamos além de que seríamos todos colocados em Liberdade, o que, contudo aconteceu bem de outra maneira. Pois, depois que os Nobres, que de cima olhavam para nós através do Buraco, tinham por algum tempo se divertido com esse nosso esforço e lamento, um certo Ancião de cabeça encanecida solicitou que ficássemos quietos, e tendo isso obtido com pouco sucesso, começou (conforme ainda me lembro) desta forma a assim dizer:

“Se a Humanidade desventurada se refreasse
Para assim se manter,
Então certamente para ela muitos benefícios conferir
Minha justa Mãe Poderia:
Mas uma vez que isso não ocorrerá,
Eles devem em Ansiedade e Tristeza lamentar,
E ainda na Prisão permanecer.
Contudo, minha querida Mãe
Não reparará em suas Tolices,
Seus mais selecionados Benefícios ainda permitindo
Em muita Luz estarem.
Embora muito raramente possa parecer
Que possam ainda conservar alguma estima,
Que de outra forma passaria por Contrafação.
Pelo que em honra da Festa
Que neste dia celebramos com solenidade
Para que assim sua Benevolência possa ser aumentada,
Uma boa ação ela planejou.
Pois agora uma Corda será baixada,
E todo aquele que possa nela se dependurar,
Será generosamente libertado.”

Ele mal havia terminado de falar, quando uma Matrona Anciã ordenou seus Servos a deixar cair a Corda sete vezes no Calabouço, e puxar quem quer que pudesse nela se agarrar. Meu bom Deus! Se eu pudesse descrever suficientemente a pressa e inquietação que então surgiu entre nós. Pois todos se esforçavam para agarrar a Corda e, contudo, apenas atrapalhávamos uns aos outros. Mas depois de sete Minutos, um sinal foi dado por um Sinete, ao que na primeira Puxada os Servos alçaram quatro. Naquela vez eu não consegui me aproximar muito da Corda, tendo (como foi antes mencionado), para meu enorme infortúnio, me dirigido a uma Pedra na Parede do Calabouço, e por meio disso ficasse incapacitado de chegar até a Corda que descia no meio. A Corda foi lançada para baixo pela segunda vez, mas vários, porque suas Correntes eram demasiadamente pesadas e suas Mãos demasiadamente delicadas, não conseguiam ficar agarradas à Corda, mas consigo levavam para baixo muitos outros, que de outra maneira poderiam talvez ter se segurado firmemente o suficiente. Não, mais do que um foi forçosamente arrancado por outro, que, contudo, não conseguia ele mesmo alcançá-la, e assim éramos mutuamente invejosos mesmo nessa nossa grande miséria. Mas dentre todos os outros, os que mais moviam minha Compaixão eram aqueles cujo peso era tão grande que arrancavam suas próprias mãos de seus Corpos e, contudo, não conseguiam subir. Dessa forma, ocorreu que nessas cinco vezes muito poucos foram içados. Pois tão logo o sinal era dado, os Servos eram tão ágeis em puxar que a maior parte caia: uns sobre os outros, e a Corda, especialmente desta vez, foi içada muito vazia. Em consequência do que a maior parte e mesmo eu perdemos a esperança da Redenção, e rogamos a Deus para que ele tivesse piedade de nós, e (se possível) nos livrasse dessa obscuridade, quem então também ouviu alguns de nós: Pois quando a Corda desceu pela sexta vez, alguns deles se agarraram firmemente nela, e Enquanto durante a subida a Corda balançava de um lado a outro, ela (talvez pela vontade de Deus) veio até mim, que subitamente a agarrei no lugar mais alto, acima dos demais, e assim finalmente, além de qualquer esperança, saí, pelo que muitíssimo exultei, de forma a não perceber o Ferimento que na subida recebi de uma Pedra pontiaguda em minha Cabeça, até que eu com os demais que foram libertados (como sempre foi feito antes) estávamos satisfeitos em ajudar na sétima e última puxada, quando, em função do esforço, o Sangue escorreu por todas as minhas Roupas, o que pela alegria eu Agora não observava, quando a última puxada, na qual a maior parte de todos estava dependurada, terminou. A Matrona fez com que a Corda fosse colocada longe dali e determinou que seu vetusto Filho (ao que muito me surpreendi) declarasse a Resolução dela para o resto dos Prisioneiros; que após ter refletido um pouco, falou-lhes desta forma.

“Vós, ó queridos Filhos,
Todos aqui presentes,
Aquilo que apenas agora está completado e feito,
Foi há muito decidido:
Seja o que for que minha Mãe de grande Benevolência
A cada um em ambos os lados tenha aqui mostrado,
Que nunca empreguem mal o Descontentamento;
A época jubilosa se aproxima,
Quando todos serão iguais,
Ninguém na riqueza, ninguém na penúria.
Quem quer que receba grandes Pedidos
Tem trabalho suficiente para preencher suas Mãos.
A quem quer que muito se tenha confiado,
É bom que possa salvar sua pele.
Para que seus lamentos cessem,
O que é esperar por mais alguns dias?”

Tão logo ele terminou essas Palavras, a Cobertura foi novamente colocada e trancada, e as Trombetas e os Timbales começaram novamente, e ainda o barulho disso não era tão alto, pois que as amargas Lamentações dos Prisioneiros que provinham do Calabouço eram ouvidas acima de tudo, o que logo também fez com que meus Olhos transbordassem. Num instante depois, a Matrona Anciã junto com seu Filho sentaram-se em assentos preparados anteriormente e ordenou que os Redimidos fossem contados. Agora, tão logo soube o número, e o escreveu em uma Placa Amarelo-ouro, ela perguntou o Nome de todos, os quais foram também escritos por um pequeno pajem. Tendo visto todos nós, um após o outro, ela suspirou e falou para seu Filho, assim como eu conseguia bem ouvi-la: “Ah! Quão sinceramente estou angustiada pelos pobres Homens no Calabouço! Quem me dera Deus, ousasse eu libertá-los todos”, ao que seu Filho respondeu: “É, Mãe, desta forma ordenado por Deus, contra quem não podemos lutar. Caso todos nós fôssemos Senhores, e possuíssemos todos os Bens sobre a Terra, e estivéssemos sentados à Mesa, quem então haveria para executar o Serviço?” Ao que sua mãe manteve a calma, mas logo depois disse: “Bem, contudo, deixe que esses sejam libertados de seus Grilhões”; o que foi do mesmo modo agora feito, e eu, exceto por uns poucos, fui o último; e contudo não consegui me conter, mas (embora ainda olhasse os demais com respeito) curvei-me diante da Matrona Anciã e agradeci a Deus que através dela tivesse com benevolência e paternalmente condescendido a tirar-me de tal Escuridão para dentro da Luz. Depois de mim, os demais fizeram o mesmo, para a satisfação da Matrona. No final, a todos foi dado um pedaço de Ouro como Lembrança, e para despendermos pelo caminho, em um dos lados do qual estava cunhado o Sol nascente e no outro (conforme me lembro) estas três letras, D.L.S. 3  E com isso todos tiveram Permissão para partir, e cada um foi enviado para sua própria Ocupação com esta Intimação inclusa: Que Nós, para a Glória de Deus, deveríamos beneficiar nossos Vizinhos e manter em silêncio aquilo que nos fora confiado, o que também prometemos fazer, e assim partimos nos separando uns dos outros. Mas com relação aos Ferimentos que os Grilhões haviam me causado, eu não conseguia prosseguir bem, mas mancava em ambos os Pés, o que a Matrona agora divisando, riu-se disso, e chamando-me novamente até ela disse-me assim: Meu Filho, não deixes que essa deficiência te aflija, mas mantenha em mente tuas Enfermidades, e com isso agradece a Deus que te consentiu mesmo neste Mundo, e no estado de tua imperfeição penetrar tão elevada luz, e guarda esses ferimentos por mim. Ao que as Trombetas começaram novamente a soar, o que me assustou tanto que acordei, e então primeiramente percebi que era apenas um Sonho, o qual tão fortemente se imprimiu em minha imaginação, que eu ainda estava continuamente perturbado com ele, e pareceu-me estar ainda sensível aos ferimentos nos meus pés. Seja como for, por todas essas coisas compreendi bem que Deus havia condescendido que eu estivesse presente a estas misteriosas e esperadas Núpcias; pelo que com confiança Infantil, enviei agradecimentos à sua Majestade Divina & supliquei que ainda me mantivesse a ele temente, para que diariamente preenchesse meu Coração com Sabedoria e Compreensão, e ao final bondosamente me conduzisse ao fim desejado. Depois disso, preparei-me para o trajeto, coloquei meu Casaco de linho branco e cingi meus lombos com uma Fita Vermelho-sangue amarrada de maneira cruzada sobre meu Ombro. Em meu Chapéu fixei quatro Rosas vermelhas, para que pudesse por este Sinal mais rapidamente ser notado entre a multidão. Para alimento, peguei Pão, Sal e Água, que por conselho de uma pessoa sensata eu havia em algumas ocasiões utilizado, não sem proveito, em ocorrências semelhantes. Mas antes que partisse de minha Pequena Casa de Campo, eu primeiramente nestas minhas roupas e Vestuário para núpcias, caí de Joelhos e supliquei a Deus, que caso algo ocorresse, ele me concedesse um bom resultado. E logo após, na presença de Deus fiz um voto de que se qualquer coisa através de sua graça fosse a mim revelada, eu não a empregaria nem para minha própria honra nem para autoridade no Mundo, mas para a divulgação de seu Nome, e em serviço de meu Vizinho. E com este voto, e boa esperança, parti de minha Cela com alegria.

Notas de Rodapé:

1 “In Hoc Signo Vinces” que se traduz por “Com este sinal vencerás.”

2 “Sponsus and Sponsa” que se traduz por “Noivo e Noiva.”

3 As três letras D.L.S. podem significar: “Deus Lux Solis, vel Deo Laus Semper” que pode ser traduzido como: “Deus é a luz do sol” ou “Glória a Deus para sempre” (também: “Louvor sempre para Deus”).